A linguagem é uma descoberta diária
algo que move a alma (imobilizada
pela usura sucessiva dos dias prósperos
e das noites mortas e lúcidas)
e invento o mundo. E o centro
o dínamo, a máquina transformadora
o que há de transcendente neles é a poesia.
Que ela contém e completa. Cria.
A matéria verbal que a poesia conforma
(ou deforma picassoamente) é luz. Centro
dinâmico do ser. Rotor e êmbolo do fazer
que seja humano humano. E não objeto
(com) de sentimento (mundano), como (de) emoção
amor corporal, sede de sair de si
para lugar algum).
A linguagem é a usina que liberta o homem.
Capaz de dilatar ou encolher a roda do tempo.
Voz oval, cântico
de que nasce o espírito
cimo onde sombra tombe
beire o desespero e a bonança beire.
Omoplata da palavra. Única
força viril, exata
capaz de rebelar o ego
ávido de usura e dor (do outro)
(que dê prazer)
para ter êxtase.
Da sacrílega alma do verbo
veio de Deus.
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