Não são doces nem suaves
mas ásperos de amor e bondade
os castros olhos de Dulcineia
hispânicas tigelas de luz
os olhos da donzela Del Toboso
em que se recolhem e se demoram
gemas da paisagem e os cios de Quixote
ídolos que o sal manuseia
“e é neles que vou morar”
diz o senhor de La Mancha.
São os olhos de Dulcineia vasos
mais puros que sagrados onde durmo e guardo
sede de ver o mundo a cavalo
pelos caminhos de Espanha reinventados
passos espalhando por toda a infinita
voragem da eternidade.
São os olhos de Dulcineia prêmios
do peregrino espírito cavaleiro
de Triste Figura épico, lírico, inúmero.
São os olhos de Dulcineia além de doces
janelas abertas na alma eterna
jazidas de luz celeste e terrena
lugar e martírio dos desejos andantes
do viandante destemido e imortal.
São oceanos lascivos os olhos
da virgem Del Toboso
e nele bebo o púbis do mundo
por eles caminho como a luz no livro.
Ó dom e donzel
inocente e intrépido
indomável e livre
Cavaleiro de todas as Espanhas
de pés cravados nos prados da eternidade
quem és, indaga Dulcineia?
eu sou imagem, vertigem e carne!






