O poema declina
de toda responsabilidade
com leitor casto, inocente, imediato
voltado a sílabas ou colisões de sons finais
não votado ao objeto
desenhado pelas palavras.
Leitor preocupado por
palavras precisas
bem colocadas, encastoadas, eucásticas
familiares como uma cadela d'água
o poeta declina
de qualquer responsabilidade
com leitor canhestro, exausto
ante a primeira palavra que desconheça, encanto
leitor bem comportado incapaz
de ousadias exegéticas (o que é isso?)
leitor culpado pelo bom gosto exato
asséptico pasteurizado
vespertino leitor coitado.
O poema declina como céu no pátio
inclinando para o alto do tempo passado
a cordas e trapos
pois poema não educa, mancha
não purifica a página, perverte-a.
Ante aturdido céu que declina
pátio parece chão de estrelas
em cachos
pedra educada e alta
é lua sacrificada
em nome de namorados
lua desenhada para sáudio
de serestas sem data.
Haverá poesia enquanto
o desconexo, a impossibilita
que a impregnam de verdade escura
pontiaguda, não comensurável
sem rendas ou mesuras românticas
pulverizadas de cáusticas auras
pobre de esgotos de imagens.






