03
Seg, Nov

destaques
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O poema declina

de toda responsabilidade

com leitor casto, inocente, imediato

voltado a sílabas ou colisões de sons finais

não votado ao objeto

desenhado pelas palavras.

Leitor preocupado por

palavras precisas

 

bem colocadas, encastoadas, eucásticas

familiares como uma cadela d'água

o poeta declina

de qualquer responsabilidade

com leitor canhestro, exausto

ante a primeira palavra que desconheça, encanto

leitor bem comportado incapaz

de ousadias exegéticas (o que é isso?)

leitor culpado pelo bom gosto exato

asséptico pasteurizado

vespertino leitor coitado.

 

O poema declina como céu no pátio

inclinando para o alto do tempo passado

a cordas e trapos

pois poema não educa, mancha

não purifica a página, perverte-a.

 

Ante aturdido céu que declina

pátio parece chão de estrelas

em cachos

pedra educada e alta

é lua sacrificada

em nome de namorados

lua desenhada para sáudio

de serestas sem data.

 

Haverá poesia enquanto

o desconexo, a impossibilita

que a impregnam de verdade escura

pontiaguda, não comensurável

sem rendas ou mesuras românticas

pulverizadas de cáusticas auras

pobre de esgotos de imagens.

Murilo Gun

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