Porque escrever é à alma escura oferecer
fração de luz do amanhecer do corpo
aproprio-me do verbo criador para
aquecer úmidas situações do ser
ante horda de turvos fenícios (antirromanos)
iluminando a página rude.
São cinzas, ex-chamas, cargas
inóspitas, armazéns que guardam
tonéis de humo, comboios de malva
deslizando pela pele da alma
sequelas de canela, adubos de hortelã
que náufragos anjos estocaram
nas dispensas do céu incendiado
por chispas de estrelas rebeladas.
Porque não admoestar
a maciez do lábio e do monte de vênus
vogais da acácia, lume do abeto
e a totalidade do outono, em ti tão pura.
Porque não olhar fugas do ônix
para cemitérios marinhos e saber
que o tempo de amar passou
e cloacas triunfaram
para vã glória das fezes dominicais.
Porque cristais amordaçados
em vitrais proibidos morreram
punhos rotos da madrugada pereceram
como madrepérolas abortadas
em escrínios sangrando.
Porque escuras máquinas de escrever
murmuram
ladainhas de cimento brusco.
(Por que faço poema?
Porque vou morrer).






