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Seg, Nov

destaques
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Porque escrever é à alma escura oferecer

fração de luz do amanhecer do corpo

aproprio-me do verbo criador para

aquecer úmidas situações do ser

ante horda de turvos fenícios (antirromanos)

iluminando a página rude.

São cinzas, ex-chamas, cargas

inóspitas, armazéns que guardam

tonéis de humo, comboios de malva

deslizando pela pele da alma

sequelas de canela, adubos de hortelã

que náufragos anjos estocaram

nas dispensas do céu incendiado

por chispas de estrelas rebeladas.

 

Porque não admoestar

a maciez do lábio e do monte de vênus

vogais da acácia, lume do abeto

e a totalidade do outono, em ti tão pura.

Porque não olhar fugas do ônix

para cemitérios marinhos e saber

que o tempo de amar passou

e cloacas triunfaram

para vã glória das fezes dominicais.

Porque cristais amordaçados

em vitrais proibidos morreram

punhos rotos da madrugada pereceram

como madrepérolas abortadas

 

em escrínios sangrando.

Porque escuras máquinas de escrever

murmuram

ladainhas de cimento brusco.

 

(Por que faço poema?

Porque vou morrer).

Murilo Gun

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