Xenócrates curava com música
mordeduras de cães danados.
Demônios temem harmonias.
Música fere tarântulas de Apúlia.
Dor é antídoto.
Bálsamo cura aridez.
À funerária redundância do veneno.
Asclepíades receitava com precisão
melodias aos frenéticos
e sais harmoniosos aos desesperados.
Aos indóceis de sempre, poção de cor amara
e doses de tristeza três vezes ao dia.
Aos eufóricos, dois gramas de urina morna.
Hipócrates curava com minúcia
e coentro esmagado à loucura.
Moendo a moenda do afeto até
todo o amor ficar miúdo.
Após aviar o receituário da tarde
Hipócrates urinava na antessala
perto da anestesia.
Nenúfar: refém do olhar.
Haste de luz, achas de som.
Vozes de madeira acalmam o espírito.
São Luís chupava furúnculos
de escrofulosos franceses
e engolia o pus para curá-los.
Engordo porcos diabéticos com ágil melaço.
Ao êxtase gótico dos anjos das igrejas barrocas.
É congênita precisão do míssil.
Touro demole bandarilhas da tarde
e abre cortejo de sangue na areia.
De lástima a pele dos pusilânimes
é de lástima também tua alma, hipócrita leitora.
Em poesia, nada é evidente.
(Cartesianamente desconsiderando).
Tanques chineses para lavagens cerebrais brasileiras.
Fornos crematórios movidos a asas de borboletas.
Rebenta súbito vinho dos velhos odres, lábios afora.
Culinária do desespero. Infortúnio
prato mais saboroso e detestável.






