A poesia absoluta, isto é, de significação formalística ao extremo, distancia-se tanto da poesia popular quanto da hoje denominada culta (que é neoposparnasiana).
E tal distanciamento é vital (e inevitável) para que crie e se justifique o devido estranhamento, causa da má primeira impressão ocasionada pela primeira leitura (de um leitor iniciante no processo da PA). E a concentração do entranhamento na carne do abstrato como que desperta, num súbito implosivo, o sentido real da poesia absoluta, que se torna plenamente legível, isto é, intelegível imaginariamente.
A PA é antirrealista, antirracionalista, antinacionalista (não existe poema absoluto patriótico) e sobretudo mesmo formalista, pois ela é forma (pura forma, forma pura), forma
É a fantasia contra qualquer realismo, ou seja, o império perene do imaginário. É o triunfo do cosmopolitismo, a abertura para a grande poesia moderna do século XX, desprezada, esquecida, mas latente e disponível.
É o formalismo contra qualquer engajamento poético. Desde que a PA é, como disse, forma – e não (nada de) conteúdo.
É pela arte pela arte e pela irresponsabilidade literária, no sentido de se contrapor aos responsáveis pelo atraso da poesia brasileiro (recuo secular).
Prego a remodernidade literária. Tendo por bandeira e cidadela a poesia absoluta. A que descarta temas populares e nacionalistas (impatriótica por definição). A que se insurge em prol de textos ditos puros, destituída que é de função social ou política liberada de investir numa batalha por identidade. É a alteridade viva. A poesia do indivíduo, que é o que realmente existe. A massa é uma convenção. Tal como a sociedade, um contrato.
Adepta (a PA) da pesquisa formal profunda, em que poeta se destitua da função (correio) de mensageiro coletivo, prócer de povo, de qualquer profetismo popularesco, de vate da nacionalidade, condutor de leitor a abismos românticos (irremediáveis).
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