Aqui, por sua vez irei me arriscar estabelecer relacionalidade entre o termo cunhado por Vital Corrêa “Ultrafuro”, à expressão “Ultrafuturalismo”, usado por Friedrich Nietzsche quando profeticamente saudou a Europa em fins do século XIX, predizendo para a humanidade uma era de conflitos que diria sim ao animal bárbaro, ou mesmo selvagem, que existe dentro de nós, o qual nasceria em seu estado embrionário no século XIX, se projetando no século XX, e, se consolidando no século XXI.
O termo apontado pelo filósofo Nietzsche assinala para uma consequência óbvia de conflito gerada pelo que se convencionava chamar de futuro inevitável da humanidade caracterizada por gastos elevados na fabricação de armas e pela transformação das mortes em subproduto da indústria em grande escala.
A Europa estava em pleno auge de sua vitalidade criadora, com Sigmund Freud mostrando todo um universo que existe além da razão; Karl Marx explicando cientificamente o capitalismo a ponto de demoli-lo, a partir da denúncia do Estado como produto e instrumento de controle da classe dominante, e Van Goghe, através de sua arte atormentada, reclamando uma sociedade mais humana.
Em seu livro “As palavras e as coisas”, Michel Foucault para entrar no campo das terminologias, apresenta-nos a expressão “similitudes" que, para ele, é a escrita das coisas, e o ser da linguagem.
No termo, ele questiona sobre as assimilações perguntando e respondendo ao mesmo tempo:
“a partir de qual a priori histórico foi possível definir o grande tabuleiro das identidades distintas que se estabeleceu sobre o fundo confuso, indefinido, sem fisionomia e como que indiferente, das diferenças? Daquilo que, para uma cultura é ao mesmo tempo interior e estranho, a ser, portanto excluído (para conjurar-lhe o perigo interior), encerrando-o, porém (para reduzir-lhe a alteridade); a história da ordem das coisas seria a história do Mesmo — daquilo que, para uma cultura, é ao mesmo tempo disperso e aparentado, a ser, portanto distinguido por marcas e recolhido em identidades”. (FOUCAULT, São Paulo, 2000)
Considerando o termo acima, podemos concluir que o “Ultrafuturo” de Vital Corrêa é o “presente das coisas presentes”, e o Ultrafuturalismo de Friedrich Nietzsche é o “presente das coisas futuras”, ou seja, tudo se resume no agora.
Os códigos fundamentais de uma cultura — aqueles que regem sua linguagem, seus esquemas perceptivos, suas trocas, suas técnicas, seus valores, a hierarquia de suas práticas — fixam, logo de entrada, para cada homem, as ordens empíricas com as quais terá de lidar e nas quais se há de encontrar.
Talvez seja isso...
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