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Dom, Maio

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Palavras são palavras (e nada mais doq eu isso, o resto – é literatura, são outros quinhentos delírios), imagens são imagens, sensações são sensações, Juízos são juízes (bem ajuizados): o homem comum vê, nítida, definida e definitivamente, assim, as coisas: separáveis, pacificadas, idênticas, estáveis, permanentes (como o exigem  as estabilidades dos sistemas dominantes).

Para o poeta, amálgama palavra, imagem e sensação é a poesia. Vide Baudelaire. (Ou Marcus Aciioly, que, em sua obra extrema, criou e deu sentido a um mundo complexo, metafórico, altamente simbólico, ideal  mesmo, embora mantendo o elo vital com a terra, com seu Nordeste, sua sina terrena. E esse liame, ligação, ponte, o fez através do Ritmo poderoso de seu estro). (Marcus é sensível aos clamores do devir).

Os artistas com sua linguagem pictórica, escultórica, sonora, etc.; os poetas com suas imagens e verdades não se comunicam mais com a própria classe (social). Há posições ilhadas, estanques. Compartimentos incomunicativos. Por quê? 

A obscuridade (a obra de arte hoje) é o resultado de uma comunicação interrompida ou perturbada. Distanciamento e medo. Estranhamento e trauma. Isolamento, secessão. Extravagância e provocação da parte dos artistas? Desconfiança e recusa da parte do público, que começa a ver a arte diferente (o poema neomoderno, real) como um corpo estanho, algo fora das normas, padrões, convenções imperantes, deformado (isto é, com nova forma?).

Chamamos à colação (em face dessas duas interrogações vitais) os mestres.

Steiner: “A comunicação ou, mais precisamente, a vontade de comunicar, as próprias intencionalidades do expressivo, seja no plano público ou privado, estão sempre fatalmente destinadas ao fracasso. Comunicar-se prontamente, quanto mais eloquentemente, implica falsificar. A linguagem hoje está necrosada com o clichê, com a hipocrisia econômica, social, individual. Serve (brilhantemente) às exigências do genocídio e da servidão política e dominação”.

Gottfried Benn, o voluptuoso e preciso poeta de Morgue (médico e escritor alemão em seu estudo sobre a lírica) afirma que fazer poesia é “elevar as coisas essenciais à linguagem do incompreensível, entregar-se à potência do inaudível, doar-se a coisas que mereçam que delas ninguém convença ninguém”.

Ou seja, o poeta, coerente com a modernidade do tempo, deve dedicar-se a coisas que mereçam estar além (e aquém) do entendimento comum.

 

 

Murilo Gun

 
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