(NOTAS A ESMO)
- Se na leitura literária deseje
coisas certas, ordem, clareza incontestável
das palavras, não leia poemas neoposmoderno
leia gramáticas (normativas, expositivas e tal).
- Caso deseje, em leituras literárias ou não, certezas
significados (mais conteúdos que expressão)
não leia o sutil e complexo poema neoposmoderno:
leia dicionários.
- Segundo suas necessidades vitais de inexpressão
e de fáceis (e gratificantes ou não) leituras
“produtivas”, lineares, faceiszinhas, textos
de sentido único, claro, exato, meridiano
de significado exaustivo – e correto
leia os parnasianos de sempre – de agora
ou outros pusilânimes poemas.
- Obs. Dicionários catálogos quase que exaustivos
de coisas significadas, repertórios dados
inventários complexos que em nada facilitam
leituras de poesia neoposmoderna: cabedal.
- Já a poética é um catálogo de sintagmas
Já a gramaticalidade é assunto sério
pouco poético. À poesia é mais atinente
a sobregramaticalidade de Kristeva.
- Como poeta, geralmente agramaticalizo.
- Na nova poética, uma associação (sintagma ou parecido) que se pretenda doce deve ser amara
por definição ou natureza).
- Tudo o que peque contra a clareza em poesia
é útil... e salva o poema. A claridade
poética é nojo. Fútil. Tolo.
- Geralmente o que os maus (ditos) leitores e
poetas fáceis apodam de deficiência
estética (quantitativa) é qualidade.
- Mau estilo poético é aquele que busca o
unívoco, o útil, o fácil, o incontestável do
poema. Tudo o que facilite comunicação
em poesia é prosaico.
Exerça a plena desescolha das palavras
- Despreze o inútil dicionário. Crie significados
ao bel prazer da verdadeira poética.
- Estilo vital em poesia nada mais é do que
a maneira do poeta (ou candidato a) pesar,
escolher, impor, ordenar e arranjar palavras
no branco da página usina de texto.
Após curva ponderação, escolha
antiquada, imposição equívoca, ordenação
meio que delirante e arranjo estrambótico
empurra-se tudo dentro de um molde variável
arruma-se tudo no interior de um
barro chamado forma (o que completa o tal
estilo: modo da forma).
A língua poética pois nada seria se não um
catálogo ou coleção de símbolos linguísticos
e suas relações com o mundo referencial
e o eu problemático (do poeta e dos outros).
Tudo sob o domínio de medo, a bandeira
mascarada, o império de A sombra, A Égide
bandoleira, A cunha equívoca, o juiz
deformante, o critério sem sentido
do id.
- A seleção de palavras que poeta produza
é mais inconsciente que ajuizada, e
nisso reside a certeza de que é poética.
A ordenação das palavras é caótica... e
menos gramatical possível, isto é, normal.
- A tarefa do poeta é produzir quase que por
instinto da palavra o texto e transferí-lo
a leitor para que este dê-lho sentido
que o aprouver ou vier à mente criativa.
- O diferencial da poética hoje é o desvio vital,
contínuo, mesmo operacional, da norma (da língua,
da gramática vigente, da sintaxe dominante e
mesmo autoritária). Quanto mais devio mais
poético. Todo desvio em poesia é positivo.
- A norma da língua é mais que necessária é
a referência para o desvio. Não há que dis-
pensar, desprezar, rejeitar, desdenhar a
norma, porém dominar e bem toda a gramática,
exatamente para desviá-la (virtualmente desvirtuá-la)
e fazê-lo com plena consciência gramatical.
De pleno.
- A relação do poeta neoposmoderno com o
leitor é a de elevá-lo ao patamar do poema.
Ao nível da poesia. E preveni-lo
da singularidade estilística que caracteriza
cada poeta, cabendo a ele (leitor) sobrepor
sua própria singularidade de leitor à do
poeta... e assim singularizar a exegese e a
leitura (ao máximo).
- Tanto leitor quanto crítico deve cri-
ticar a vaguidade e o emboloramento de
seus conceitos e aparatos, evitando desa-
tualizar-se e passar a contestar
a novidade, por deficiência dele e
e não do novo. É o que acontece
hoje – fora de FAMASUL, com a
poesia absoluta.
- A ambiguidade léxica (ver Seven types ov
ambiguity, de Empson) é vital à metáfora.
Igual ou maismente à sintática.
A ambígua sintaxe é fundamental à
Poesia absoluta. Sem ela, não haveria esta.
- A sintaxe incompleta por excelência, a
despontuação, a prosódia encalacrada ou malcriada
o fluxo sem fôlego, a imaginação do
gênio, a demiurgia sublime são motores
dos monólogos interiores de Joyce.
- A complexidade do poema, seu valor, sua
essência, decorre da intrincada sintaxe, dos
neologismos inusitados, da manipulação
da gramática... inventividade poética,
enfim.
- À ambiguidade léxica necessária à poesia
acrescenta-se a ambiguidade gramatical e
lógica.
- O escritor criativo, poeta, prosador (seja o que
for) deve criar o próprio e peculiar texto,
inimitável até por ele mesmo. E afas
tar-se ao máximo do contexto ou da
situação real (que normalmente é vulgar)
do fato diário, da emoção mesquinha
ou não, mesmo elevada, chorosa etc. Vol-
tar ao contexto da obra, criado por ela.
Apelar para a suspensão da descrença
do leitor possível (e arguto).
- A suspenção da descrença, do juízo
rígido, condenatório, interrogativo, averi-
guante, ajuizamento enraizado na exata
realidade (das máscaras e aparências) é básico
tanto ao poeta quanto ao leitor absolutos,
isto é, não relativos.
- O leitor deve-se orientar, louvar-se
no contexto de situação
criada pelo poeta, nele. Imergindo. Deve
alicerçar-se no âmbito do contexto gerado
pelo acúmulo de intra e extratextos, bem
como de intertextos básicos. Assim
divorciar-se, afastar-se, abstrair-se do
contexto ou fatos da realidade física e
mesmo psicológica. Todo apego (de
autor ou leitor) a essa realidade é nociva
e banaliza, inutiliza, ordinariza a ficção,
destituindo-a de todo o valor literário
- Faça o poema deixar de ser uma mera
mensagem, mas uma experiência (tanto
filosófica quanto psicológica, física e afetiva).
- Sempre transcender significados (conceituais
ou não).
- Ao produzir no leitor experiências vitais e despertar
arquétipos, o Poema Absoluto faz-se humano.