Uivo de hiato, sílaba solitária ou ébria
como vareta violenta da bucha abatida
escondendo poção plúmbea
sob pressão macia.
Vulcão atiçado por palavras de fogo
e sons acesos de lava resoluta.
Prato de língua à parmegiana
com cebolas metonímicas á revelia
doce de sílabas com açúcar ávido (esteviosídio)
de retórica fria ou vogal amara
além de antepasto de convenções ingratas
com vozerio e mel inválido de gramática.
A Príapo.
Nubentes ventos.
A jornada é cansada.
Envolto em rede de palavras, poema trama
sentidos impublicáveis
enredado dos gestos solitários do mosteiro
(ou do monturo de fervores abandonados)
instalado em rochedo de solidão ática.
Logos como discurso e pensamento.
A beber dos gestos apuro ébrio
das mãos conchas escravas
dos olhos visões mágicas.
A beber do rosto maçã avara
e das palmas a mais verde água
das angélicas asas o terrível voo
à náusea
à pérfida dureza buscar mágoa
e vaso de remorso
para beber da vida gole flácido
último trago, fim da palavra.
Todo o sinuoso êxtase
toda a pureza do gozo beber.
De vário trago.
Como silêncio de cílio
como as pás das pestanas
e sobrancelhas mordendo o ano (ou o ânus)
como à sombra do sopro buscas
enleio de rosas, pistilo de luz abrindo
além do suplício fervoroso do cilício
nada ameno mas capaz
da dor da benção
ante o pó hesitante, ante
ruína que bate à porta
ou se amontoa na soleira viva
como a sombra côncava do âmbar
vacila e a taciturna urna cavila.
É chegada a hora do começar o nada.
Ávido e íntimo mármore da alma
onde ocos homem buscam sujo abrigo
onde safiras ardem e labirintos mordem
onde graças se locupletam do corpo
desalmado e atento à usura voraz
que o devaneio mercantil consente
abraçada a lingotes e touros
tua gente caminha à borda
irrespirável dos abismos largos
cevando a raiva e o tímpano
com aforismos de ira surdos
ó sucos extintos
ó horta de amoníaco
venham a mim (alvorada impura de alvaiade).
Sombria luz do céu alumia
de azeviche a alma e doa
negrume ao espírito, preenche
de greda veia e tubos
irrespiráveis acrescenta ao todo
de que tristezas se apropriam
e sedes em levante esgotam
vasos de aleluia
e amaros frutos opimos e nus
trancafiam sumos, esmagam sedes
e impotentes infinitos vigiam o nada
e opressões desertas triunfam em delta
e omissões enfrentam
os desesperados atos sem fé.
A vida seca o molambo da alma
o tempo morre no sítio curvo
perante o átimo que agoniza
a tumba abre sua boca torpe
o sal foge da carne
olhos se suicidam no logro da lágrima
a safra da morte abre
sulcos de cova, o céu expulsa
os últimos anjos
a fera escura venda o sol
a onipotência trai a criatura
o vão terrível esgota o grito
da alvenaria do silêncio erguido
como viadutos para o espírito.
Execrável dia do nascimento
hora em que a moira libertou a sombra
inclemente tempo de desastres sólidos
câmara de dor aberta em copa triste
estranguladas estrelas de minha sina
infinita ira alberga o coração
nenhum nome lanço mais no poema
nenhum lance de búzio aceito
além das labaredas e dilúvios
complacentes sonhos expulsos
do peito rondam a dor de ser
lábios do vento, eu vos extingo
rosas do olhar, apodreço
como chama que empobreça o todo.
Tigre de gaje vento
assusta e desmancha
espalha a mandíbula de seda pela sela
cinzela de silêncio urro avaro
amara película de saliva amarra
à alma submissa a abismos
e do azul da tortura extrai
desventuras e anseios selvagens
fio da sina que Parca assina
ante mares descalços oferece
gáveas de pecados e cais ferozes
ante pelos e almas, vende o nome
e sucumbe à pluma que seduz.
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