Velório não precisa ser belo
basta ser triste
(embora a beleza do fúnebre
em face da certeza da morte
seja inconteste).
Num poema como o soneto correspondências
de Baudelaire, vê-se claramente que
a natureza é um texto... e de sua
múltipla correspondencialidade brotam sublimes
correlações de caráter semiótico gerando
(como causa e efeito simultâneos) vasta
sinestesia.
Nos quartetos iniciais:
A natureza é um templo onde vivos pilares
deixam às vezes sair confusas palavras
o homem aí transita via florestas de símbolos
que o observam com olhos familiares.
Como longes ecos logo confusos
de tenebrosa profunda unidade
vasta como a noite ou a claridade
perfumes, cores e sons se correspondem.
A partir de um pano de fundo natural
porém expresso por símbolos verbais, Baudelaire
detecta (ou cria) um sistema de correspondências
como só um deus poderia criá-lo.
Flagra-se (antes da semiologia existir)
uma singular visão semiótica, quando
a natureza associa-se na mente do poeta
a um sistema de sinais (florestas de símbolos)
de caráter sígnico verbal.
Essa sinalização baudelairiana a leitor
é indicativa de que ele pretende uma
comunicação semiótica (e sinestésica).
(Do ciclo Aleluia de pedra).
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