a Alberto da Cunha Melo
Brotam gritos da boca
da garganta abrem-se sílabas
símbolos exumam o coração
nascem pandos jasmins dos lábios
a vagar do bosque da palavra
através do meio-dia de amoníaco
demônios solares acatar
(tudo pelo poema)
jardins da tarde demolir
sob horizontes de sons beijar bem-te-vis
azul da terra sentir
brando cristalino verbo tocar
com o sofrimento da nuvem
e o domingo desperdiçado entre bênçãos fúteis
entre desespero e incerteza
saber que a palavra encontra o coração
e o lirismo é a salvação do corpo.
(Nuvens navegam nos cabelos
no rosto repousam derrotas).
Rima titubeia como rosa finando
no ângulo escuro do arrabalde
poema vaga sem tino ou sina
na praça da página
grama titubeia
e o girassol comove cães
azul do céu caminha ao léu
tristeza arrasa corações impiedosos
rubro e úmido beijo
mulher nega
(ao simulacro de homem
que a ilude)
a brisa surda deixa
imóvel bandeira
de trapo é a verdade
de pano bordado
a sinceridade da usura urra
eis a selva morta da vida
cidade onde os corações se estreitam
amarrotados (no amar roto)
e o desespero salva
(embora desprezo não salve domingos).
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