Não me fale da vontade da palavra.
Ela vale tudo o que não seja mesmo nada.
Absoluto, é poema destituído de nervos
sintáticos ou não.
Desvele o elo da sintaxe, revele o poema. Resvale o sentido.
Poeta é quem se ache senhor (absoluto)
do destino da palavra.
Da velha alma do verbo, capitão ou quimera.
Só a obsessão – não o cansaço
finda o poema ou bem o inacaba.
Se o poema pareça acabado, cuide
em dispor de outro modo na página
as palavras, o método caótico
conserva a poesia como álcool à alma.
O mais fatigado fruto da palavra é o poema.
(Quanto mais arrogante ou demasiado, melhor).
A incompreensão do leitor é vital.
Ao desenlace do poema... que quanto
mais o contrarie (a tal leitor)
mais absoluto e verdadeiro o será.
Caso se assuma como poeta absoluto, suicide-se.
O acme verbal é bastante fatal.
Novas estruturas conceituais complexas
vieram, vêm, virão da poesia absoluta.
Sem falta. Novos alicerces mortos. Ou andaimes flácidos.
Contêineres de significados mortos boiarão.
Creio no átomo e em Deus
Creio no átomo de Deus.
A cada configuração de palavra
a mescla de substantividade e o
teor de adjetividades não
esmorecem... e a entropia verbal cresce.
Como a poesia é irreversível – e imparafraseável -, a nova
figuração é outro poema: primeira
lei antibulha. A entropia verbal mede
o teor de ambiguidade poética irredutível.
Não há sentidos (físicos ou não
emocionais ou racionais) num poema.
Há estados diversos de captação pessoal
do que há de equívoco ou iunívoco.
Vê-se o poema mais facilmente
pela configuração física das palavras
embora a figuração mental seja
vital e variada. A vivência de
ambiguidade é a riqueza poética verdadeira.
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