(sou antiemocional por excelência, como poeta e ser).
Emoções são coisas passadas da alma
resíduos que não morreram
(sobrevivências fúteis, apenas sonoras)
pressões do coração (que é mecânico
bomba oca, expulsor de sangue, câmara dúbia)
não das veias. Nunca da medula.
Emoções são (se são sãs não sei)
sensações barateadas (ratos sensíveis)
excreções da pele (que a alma condensa).
São coisas meio estéreis emoções
superfícies da alma.
Coisas de somenos.
Nada de mais.
(Emoções: o nome, o som: já é um barato).
Estou deitada nas asas da madrugada
teia que pega e apalpa a realidade.
Deitada num leito de estrelas ímpias
cortejada por desejos abruptos.
Vozes do alto abrem o silêncio de meu corpo.
Aves da alma voam em minha carne ulando.
A vagina esplende
gozo a espreita
sonhei que vinhas a minhas veias
quis que viesses me buscar de manhã nua.
(O rosto é a ruína das teorias:
é prático demais).
Rosto disperso nos bosques das lembranças
entre intrincados matagais.
Vorazes raízes
Cai o sol da ponte do poente
p/ os braços nus da noite
frisado de
lua calma da madrugada
palavra fabril
pulso, cátedra, alma da lua.
Se faz sentido não é muito poético
é misto de prosa
contaminado de prosas
etc.