O sentido geral das coisas, canções, poemas, conversas, crônicas etc induz objetividade e comunidade de pensamento (e, por efeito, comunicação).
E é ilimitado, no sentido de abranger tudo o que de algum modo seja significante (como o poema) e/ou tenha significado (como a prosa), objetivamente considerado.
Por esse espectro amplíssimo de sentido generalizante global, universal, todo o ser existente torna-se-nos objetivamente apreensível.
No entanto, o poema (como poema, na acepção especifica de) tem um sentido próprio, não particular, mas peculiar. O sentido da forma que dá forma ao sentido. E este sentido poético real quanto mais inacessível ou inapreensível, de súbito, imediatamente, de uma vez por todas etc, ou seja, esse sentido complexo quanto mais incompreensível melhor, mais o poema é. A compreensibilidade imediata ou possível é própria da prosa. Poesia são outros quinhentos e cinquenta.
E também esse sentido (do poema poema) não detém valor universal – como o dado sentido sentido geral das coisas – posto ser, não objetivo ou subjetivo, mas poético, de outra dimensão crítica, de outra categorização estética. Também, não é, digamos, um sentido pessoal, particular, mas um sentido especifico e variável, preciso e flutuante, o que dota o poema absoluto de tão ampla polivalência de sentido que... perde o sentido (o leitor).
Esse sentido ingeneralizado aponta para além dele mesmo, muito, para o interior de si mesmo, de tal modo é profundo tal sentido absoluto do poema, que leitor já não possa entendê-lo objetiva e universalmente. Cada leitor entende, apreende, recepciona a seu modo especifico o sentido absoluto do poema, que tende à incognoscibilidade. Daí, Rogério Generoso ter intitulado Noumenon (de Nôumeno, a coisa em si kantiana) o seu primeiro – e de primeira – livro.
Nesse âmbito, é previsível o naufrágio de leitor que encare ou busque fazê-lo, ao poema absoluto, com o sentido geral das coisas em riste, intencionando sabê-lo.
É preciso crer na existência do poema absoluto e distingui-lo de obra intelectual, de sentido geral, de veículo de comunicação ou meio de mensagem, pois o poema absoluto é um fim em si, ou uma finalidade sem a fim, como dizia Kant.
Como existência, o poema absoluto é irrepresentável, imparafraseável, único, e equívoco o mais possível.
O que concirna ao âmbito do sentido geral tende à clarificação – e o poema absoluto é escuro, de gênero obscuro, nada clus.
A existência absoluta do poema é vital ao pretendimento de alcançar seu conceito... e fazê-lo.
Como transcendência de sentido, o poema absoluto é algo (ser poético) que se funda e se funde em si: é imanente e transcendente simultaneamente.
A liberdade marca a poesia absoluta, ou como dizia O. Paz: poema é a palavra em liberdade, isenta das grades e jaulas do ego. E tal liberdade não é do âmbito material, sentimental etc: é do âmbito da transcendência, puramente humana.
É, portanto, na transcendência que se dá a libertação da palavra no poema, é lá que se desata a liberdade do verbo em suas últimas consequências. Daí, o fato do poema absoluto desnecessitar da lógica... e aliar-se ao paradoxo (ou lógica paradoxal). E, como tal, não pode ser resolvido racionalmente a equação absoluta do poema, a forma da palavra, seu potencial criador, se realizando no poema. Na poesia, digamos, ocorre o fenômeno substancial da politranscendência verbal.
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