A situação – mais do que bem diagnosticada – de descontemporaneidade (ou meras descontemporanização radical) absoluta dos poetas (ou da poesia) brasileiros,
após a geração 45, resultou na invenção Poesia Absoluta.
Os poetas de 45, 60, 65, 80, etc não somos contemporâneos de nós mesmos. Um fenômeno, um desvio, um vacilo crítico, o apagão (vindo dos anos antidemocráticos de 1930/1945 e advindo do período ditatorial 1964/1985) literário, com a intervenção de sua evolução normal, além de outros fatores, possibilitou o adventício de uma poesia em que a tradição já velha e superada após 1922, retomasse as rédias, se reimplantasse... ninguém viu ou sentiu. Eis a fonte ilegítima, inautêntica, anacrônica da horda de sonetista glosadores “camonianos”, rimadores, tudo normalizado por Bilac e Guimarães Passos. Involuímos e muitos. Ou evoluímos em retrô, regressivamente.
A linearidade do tempo histórico brasileiro é de pasmar. 50 anos depois do “golpe militar”, no Brasil, essa deformidade histórica e antihumana por excelência está presente, age, é. Da mesma forma que, inocente e impunemente, sonetamos, como se fosse a maior normalidade do melhor dos mundos literários possíveis.
A poesia absoluta vem no vórtice de um “multiversum” do tempo multifacetado, pluriestratificado, de um meditatismo imediato, de uma “solução final” saudável e benvinda, salvífica de nosso orgulho literário. Sair do atraso. Em pleno século XXI, o Brasil vive da idolatria viva masupremo imbatível primeiro e único romancista maior do Brasil, insuperável. Agora, em outubro de 2014, saiu um livro sobre a “traição ou não da mocinha de Dom Casmurro (de quem esqueci o nome). É possível meditar?
Soube que um membro novo, ainda meio jovem, da Academia Sueca, indagou por que o Brasil nunca emplacou um Nobel, ao menos de literatura e pespegou: por que não inscrevem o Machado de Assis? Pois é o único, ninguém é ou será maior do que ele. É preciso urgente e já, desmachadianizar a literatura brasileira... e proibir sua literatura nas escolas pelo menos por 10 anos.
O passado não pode invadir o presente e interditar o futuro. Sonetos às cucuias Machado isola pásargada. O sonetismo é mofento. A sonetinização isola poesia brasileira é idiota e cínica.
É preciso sermos poetas supra ou ultracontemporâneos e não sub ou acontemporaneos, como somos. (Me incluo apenas por uma questão de elegância).
Vivenciou-se no Brasil um passado não resolvido (até hoje). Os anos 1930/45, 1964/85 (21) e 1985/93 (8) – Sarney e Collor, somam 44/ (em 60 anos) de legitimidade (legalou não), o que é muito e muito influi no amadurecimento literário, para mas na prosa, para muito menos na poesia. As nessas vanguardas de 1956 em diante, eram visuais gráficas, e cantaram como normalíssima a geração 45. Meras digressões num campo, numa vertente singular, nunca na contramão.
Essa basto passado não resolvido seroy uma bruta falsa (ou mesmo má?) consciência.
Ora se não somos contemporâneos de nós mesmos, vivemos num estranho presente suspenso, acrônico ou mesmo sincrônico. Qualquer diacronia foi engolida pela trapaça do tempo.
Há um vazio Kitsch grande.
É.
E o soneticismo emergiu dessa situação estranha e alienante ao máximo de elementos e condicionamentos não resolvidos no tempo literário brasileiro, onde Machado e Bilac são supremos insuperáveis.
Quando presidia a UBE-PE fui convidado assistir a uma longa palestra de um alto escalão da Academia Brasileira de Letras, que por mais de duas horas analisou um soneto de Bilac. Quando ultrapassou as duas horas pulei fora, em busca do tempo perdido (e li Cioran, Perse e Eliot, além de CDA, Murilo Mendes e Cecília).
Na triste verdade, não superamos (dialeticamente) nada, nos engolfamos nos elementos do passado, que, na polissemia dialética do conceito “superação”, seriam bem enterrados, na cova da tradição “passada”.
O tempo está acoplado a uma realidade plurirrítima características dos avanços incomensuráveis do século XX, na arte, literatura, mais do que na música e no drama.
A verdade é que temos ainda e muito de prestar contas a um passado incompleto, imperfeito multifacetado atrasado. Portanto, futuro cerceado, condicionada ao passado imediato.
Foram muitos os anos perdido no Brasil, desde 1822, em especial, em todo o século XX. E por sermos emotivos, fanáticos, conservadores do atraso, não compensamos nada. Ao contrário, descompensamos. 50 anos após 64, estamos preso às malhas (metafísicas) da dura literatura.
A poesia conservadora e reificada no Brasil é refém do atraso, da submissão, da impotência. A poesia atingiu o ponto máximo, a latitude superior, com o soneto, pronto. E não há aonde ir. Chegamos (lá).
O nosso pó é antipó, ou, como na classificação de potenciação do pó, de Bloch, é da terceira potência do pó, que é o pó que desgastou as catracas poéticas da geração (1930) de Drummond, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, entre poucos. Daí, começou um processo de retroação, de marcha a ré, de regresso, de recuo, até hoje.
Algo, em poesia, extremamente contemporâneo aparece na FAMASUL (complexo de Faculdade da Mata Sul de Pernambuco, sediada em Palmares), onde dezenas de alunos de letras e professores de porte estão envolvidos e teorizando o movimento Poesia Absoluta, sobre o que lançaram o livro “A estranha poesia de VCA” e o manifesto do “Ultrafuturismo” professores Admmauro Gommes, Marcondes Torres Calazans, João Constatino, Ricardo Guerra, Wilson Santos e outros abraçaram, com 30 ou 40 universitários e graduados, esse retorno da poesia moderna, como neoposmodernidade poética, que traz o poema brasileiro ao seu presente autêntico, real.. e não reificado, alienado etc. Trata-se de um estado de contemporaneidade legítimo e legítima.
A contemporaneidade da FAMASUL é fantástica, contemporaneidade surpreendente. E avançada.
Nesse novo horizonte da nova poesia, a grande última é o sentido gramaticalmente correto. Ou leitor perspicaz. Que quer explicações. Em imediata.
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