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Avós, a morte os levou. Resta-nos não ser lavados (no IML ou num hospital, caro e imoral). Precisamos saber. Viver.

Não adianta a piedosa. E ilusória sapiência da morte. Aquilo de que a vida é uma preparação para a morte é idiotia doente. A vida, o sopro vital, é apenas a condição, o grid para deslanchar a viver plena e eficazmente. Onde morrer não deve constar do plano de voo da vida.

Sorvo a vida em haustos inclementes. Meio que anárquicos porque sinceros. Grito. O silêncio ouve-me bem. (O silêncio não é surdo-mudo ímpio).

Do silo de silêncio do Mosteiro em que tão bem me encravo. Sem círios. Com pássaros. Da mesinha de velha e boa madeira perto do jardim selvagem, do beiral de pássaros onde o alpiste tenta as aves, de uma tonta borboleta que entrou na minha cela confundindo o interior da cave com pedaço do céu.

Lanço no papel vergé salmão, com tinta fina Tilibra, os traços dessa crônica veral. E sinto que as coisas confusas se acalmam. Que o mistério da vida se desdobra. Que o real ainda não é visível para quantos (coitados) que se impregnam de cálculos negociais, equações bursáteis, metragens. Alumbramentos escuros. Alienações pueris. São exímios defensores do dólar da alma. Da ração de moeda do espírito. São. Apenas idiotas. A quem Deus, por engano, concedeu o sopro. E logo se arrependeu.

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Murilo Gun

 
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