Frieza a rigor, exige poesia. Secura e implosão.
Concisão e efusão descomedidas.
A metamorfose do poema ocorre
na forma, na aparência, no ritmo.
Lacônica palavra, a poesia. Quase silêncio
intacto como abismo.
A existência é frágil como Deus.
E esconde a face.
Poesia objetiva esclarecimento espiritual
Propiciar encontro com a existência real.
Projete seus instantes. Não morra antes de ser.
Para ser o preço da consciência
que abrigue o fluxo de inconsciência.
O poeta é um contraprofeta.
Por excelência, um vazio vital.
Abaixo todo simulacro de existência.
Vertigem vital à poesia
voragem: instrumental e idílica.
A hora azada do pão mais ázimo
da palavra: poesia absoluta.
A lucidez absoluta é incompatível com a respiração
dixit fuziladoramente Cioran.
Daí, poeta absoluto não suar.
E o sopro ser de barro. E cru como o início do verbo.
De bênção malsã, de corpo sem alma.
Falo culto à usura, fê-lo o bom pagão.
Poema capaz de suportar
a percepção de coisas essenciais.
À quintessência do automático.
Só Deus e eu existimos: solipsismo a dois.
Leitores são meus sonhos.
Âncora do furioso na desesperança
ânsia de ser outro, poema.
Ânsia de desespero, furiosa esperança.
Lembro do tempo do inesperado desespero
do cio íntimo e nu, da sede da dor
no agônico cume do nada postada.
E da hora em que imprecava Deus.
No furor de ser.
O arrebatamento da palavra leva à loucura.
Demiurgo o abismo do verbo.
O fogo místico é vazio e íntimo.
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