Fogos fugiram como ralos de ratos
a nave do corpo abandonaram.
Cálamo imóvel vai ao mistério
(infernal) do espírito e acorda
os demônios da imaginação.
Fogos fugiram como ralos de ratos
a nave do corpo abandonaram.
Cálamo imóvel vai ao mistério
(infernal) do espírito e acorda
os demônios da imaginação.
Todo vazio é hiante.
Todo uivo viável.
Todo abismo vê.
Só a palavra usura é viva.
Saibas, leitora ínvia, que Deus (hábil sábio) fechou o paraíso (quando desde a expulsão de Eva e Adão – seus sublevados filhos falhos, jogou as chaves fora – e deixou placa avisando o terrível fato na entrada do Purgatório (explicando ao adentrar aqui deixe do lado de fora qualquer esperança de salvação) ou edênica pretensão).
Nu saí do ventre mãe
nu vim do úmido útero
para o trânsito (engarrafado
do perigoso mundo)
A simetria implacável do poema
dividido em retangulozinhos de 3,4,5,6 e 7 versos
(próprios da sublime poesia popular
da tradição cordelista e declamatória
de extração medieval lusa) é intolerável
hoje, agora (século XXI).
Pois tudo está escrito (desde Malba Tahan)
ato a ato contabilizado
pecado a pecado, maléfico e maléfico maiêutico
nos borradores e currículos (portfólios irados)
nos livros das razões da ira de Deus (amém)
lavrados, atados, sem prece ou perdão.
Depois de inúteis milênios
de rastros, soledades, estações
depois de ministérios e migrações
de desesperos e admoestações
depois de mortes aborrecidas
e tintas enamoradas
Tanto o mundo sublunar
quanto a existência solar
são mais precários do que Deus
(que não nos ama tanto assim
e sempre nos deleta
cessa nosso fôlego
com a amargura do sopro (inverso – e prosaico)
arrancado de nosso peito
suprimido de nossas bocas
(ou narinas esmas).
Por minha estada (amara ou algo parcamente dulce)
do mundo nada receberei de brinde
(a não ser a mortalidade, kit que desde
o berço vem anexo à sina ou alma – ou debênture do útero)
nada, absolutamente nada, levarei (ressarcimento?)
Ambrosia da lisonja embriaga
mais que cocaína da inveja
ou néctar turvo da vaidade.