24
Qua, Abr

Poeta (não é fingido) é simulador de falsas palavras.

Isto é, de fingidos sentidos. E sentimentos turvos. Produtor de gritos novos

e messes cilíndricas. Fazedor vital de falsos perfumes. E de

desaromas verdadeiros. Ao simular palavras

(ocas porque plenas do sal do silêncio ocas

porque o abril cruel de Eliot as fez assim)

o poeta dá sentido ao caos do cosmos.

Formalmente objetiva o ser do verbo.

E o verbo é o humano posto na página. O

que restou da luz do sopro de Deus na terra.

O tempo é uma rua de Paris

cheia de pacíficos murmúrios

e rumores de serpente persa

dos vândalos gozos

das usinas de absinto estrelado

com uivos verdes de anis

e tédio cintilante

Leia mais...

Reticência... ou silêncio? Tanto faz.

 

A inocência é eterna até...

Um estuprador assomar a sua alma.

(Na porta da casa ou na sala de jantar bárbara).

 

Leia mais...

A tragédia adeja (em teu entorno, leitora vital).

A existência é trágica por exemplo e definição.

Somos seres para a morte. O pasto desta

é o sheol. O túmulo teu destino lato (e parco).

 


 

 

Para a lápide (infinita porque eterna

em sua temporalidade exígua e imóvel)

prepara teu último poema ou a mais querida e desolada epígrafe.

que colhestes das mais vãs leituras, tola leitora.

Não fugirás à determinação maior

à finalidade inescrutável da morte, saibas

urgentemente e sempre.

Quem sabe (que Deus de temor saberia só para ele?)

se ao começares a leitura deste poema

o súbito (e inexplicável) da morte enfática

enfartará teu doloroso (e inútil) coração?

Quem sabe? Saberás ou não, após.

 

{jcomments on}

 

 

 

 

 

 

 

a um ocaso cujo escarlate perdura num vaso em Creta.

 

para os ridículos literários, artísticos,

sociais e políticos do nosso tempo.

 

“um homem pode viver três dias sem pão

mas não sobrevive um dia sequer sem poesia”

Baudelaire

Leia mais...

 

Se há lógica na poesia

é a da redução completa ao absurdo.

E se há crença na poesia

é por ser ela absurda.

Crer na poesia é ser humano.

Sou irmão das coisas fugidias

a poesia é familiar do caos

(do âmbito do obsceno e da verdade)

não da desdita.

 

Leia mais...

Mais Artigos...

Murilo Gun

Inscreva-se através do nosso serviço de assinatura de e-mail gratuito para receber notificações quando novas informações estiverem disponíveis.
 
Advertisement

REVISTAS E JORNAIS