Velório não precisa ser belo
basta ser triste
(embora a beleza do fúnebre
em face da certeza da morte
seja inconteste).
Velório não precisa ser belo
basta ser triste
(embora a beleza do fúnebre
em face da certeza da morte
seja inconteste).
A poesia não é letra. É espírito
letra é o poema. Carne o poeta.
De mãos perdidas
e pés amputados
as bailarinas voam.
Poeta (não é fingido) é simulador de falsas palavras.
Isto é, de fingidos sentidos. E sentimentos turvos. Produtor de gritos novos
e messes cilíndricas. Fazedor vital de falsos perfumes. E de
desaromas verdadeiros. Ao simular palavras
(ocas porque plenas do sal do silêncio ocas
porque o abril cruel de Eliot as fez assim)
o poeta dá sentido ao caos do cosmos.
Formalmente objetiva o ser do verbo.
E o verbo é o humano posto na página. O
que restou da luz do sopro de Deus na terra.
O tempo é uma rua de Paris
cheia de pacíficos murmúrios
e rumores de serpente persa
dos vândalos gozos
das usinas de absinto estrelado
com uivos verdes de anis
e tédio cintilante
Reticência... ou silêncio? Tanto faz.
A inocência é eterna até...
Um estuprador assomar a sua alma.
(Na porta da casa ou na sala de jantar bárbara).
A tragédia adeja (em teu entorno, leitora vital).
A existência é trágica por exemplo e definição.
Somos seres para a morte. O pasto desta
é o sheol. O túmulo teu destino lato (e parco).
Para a lápide (infinita porque eterna
em sua temporalidade exígua e imóvel)
prepara teu último poema ou a mais querida e desolada epígrafe.
que colhestes das mais vãs leituras, tola leitora.
Não fugirás à determinação maior
à finalidade inescrutável da morte, saibas
urgentemente e sempre.
Quem sabe (que Deus de temor saberia só para ele?)
se ao começares a leitura deste poema
o súbito (e inexplicável) da morte enfática
enfartará teu doloroso (e inútil) coração?
Quem sabe? Saberás ou não, após.
{jcomments on}
a um ocaso cujo escarlate perdura num vaso em Creta.
para os ridículos literários, artísticos,
sociais e políticos do nosso tempo.
“um homem pode viver três dias sem pão
mas não sobrevive um dia sequer sem poesia”
Baudelaire
Se há lógica na poesia
é a da redução completa ao absurdo.
E se há crença na poesia
é por ser ela absurda.
Crer na poesia é ser humano.
Sou irmão das coisas fugidias
a poesia é familiar do caos
(do âmbito do obsceno e da verdade)
não da desdita.
Recife, cidade adiada
submersa em sua mágoa
espaço sem corpo
só pedra, rio e goivo
trapo de sono
ventre de cio