Tinha uma profissão peculiar
(fora de série, dizia-se nos anos 80)
e única, acho que jamais exercida antes:
enterrar luzes, quaisquer, sob diferentes formas.
Tinha uma profissão peculiar
(fora de série, dizia-se nos anos 80)
e única, acho que jamais exercida antes:
enterrar luzes, quaisquer, sob diferentes formas.
Meu coração é um rebanho de azaléas
poço de cisnes conflagrados, surda
tundra de ursos arcaicos
bando de musgos, cofre
Se foi por mim que muros caíram
ruíram utopias, sagas se despedaçaram
se foi por mim que o fogo bebeu
eloqüente cidadela e heróis estertoraram
De mínimo mundos e somas finitas
de assertivas vãs e obliquas introsões
de minúsculas mandíbulas (verbo-carnivoras)
de carbono azul e atentas minuncias é o poema.
(poema pedagógico)
A fonte da poesia é o inconsciente.
Da bacia do id ela bebe.
E se embriaga delirantemente.
O silicato incansável dos dias
o cascalho das emoções vazias
geometria pânica, épura rupestre
ctônica veia para o basalto do id
Amantes não são feitos de mármore
(frutos de entalhes e sacrifícios vitais)
não os cumulam anelos frágeis
incêndios nus da alma não os deletam
Toulouse o apresentou
aos prazeres da Fada Verde
a Gauguin ofereceu o acepipe
de uma sopa de tintas
Escrevi ontem um poema alcoviteiro.
Estava em desuso e a barba parecia duas navalhas cegas.
Estava me discriminando muito e me acotovelei
num ângulo... felizmente era um ângulo de outubro.
Rubis incendeiam regaços
do dorso lampeja esmeralda
sais celestes luzes dos vitrais gotejam
que joias reflexas do seio espargem