Vital Corrêa de Araújo
Tirésias viu a noites sobre noites
contemplou lumes cansados.
E olhou vísceras douradas ou facínoras.
Vital Corrêa de Araújo
Tirésias viu a noites sobre noites
contemplou lumes cansados.
E olhou vísceras douradas ou facínoras.
Faça-se a si mesmo
liberte-se logo
dos grilhões umbilicais.
A mãe de Rimbaud, indagou do jovem poeta, assustada com as incompreensões que ele escrevia: o que você quis dizer, filho, num determinado poema?
Este é o poema visceral e inteiro
das prédicas mui transitivas
e do gosto ornamental, a terna veste
Choques políticos têm percorrido a veia brasileira, criando trombos,infartando a democracia, com figuras folclóricas, como Jânio Quadros, João Goulart, Collor, Itamar Franco, Sarney, guindados ao posto de presidente da república, legitimamente vírgula, deixando atrás de si um rastro duvidoso, um sabor inautêntico e viciado de que as coisas não deveriam ser assim.
Não se trata da busca do sentido perdido (ou abrir a vital arca do significado), mas de perder os sentidos, ocultá-los, tornando-os indecifráveis, isto é, não fáceis, desimediatos, dá-lhes o resplendor do mistério. Os gregos antigos (clássicos) consideravam o poeta possuído por deuses, portanto em estado de delírio, em que a perda do sentido (da palavra) era fulcral. De enthos (possessões por um deus) vem entusiasmo.
De invisíveis dons prover a mão
que a pena envergue o mundo
(alveje escuro coração
alma cândida apedreje
Para o poeta, desde Rimbaud, Valéry, Pound, Perse, Octavio Paz, Guillén (Jorge) etc, poema é inexplicável, no sentido de o que se quis dizer ou qual sentido - prévio ou não, acabado ou não, preciso ou não, foi impresso à página poética? Como uma alma ao corpo.
O mais extraordinário salto de qualidade de que decorre uma nova síntese no processo de evolução cultural, no âmbito da arte em geral, revolução estética, que influiu consideravelmente nos campos social, psicológico e científico ( e setores tão distintos como arquitetura e filosofia), ocorreu no início do século XX.
Cláudio Veras
Acompanho a poesia de Vital Corrêa de Araujo há mais de vinte anos (desde 2010, também, a de Regério Generoso – e seu monumental Noumenon), e sempre tenho (anotado e discutido comigo mesmo, alguma vez com Odisseus Morales, quando estou em NY) algo a dizer, registrar a respeito da poética vitaliana (que S. Joachin tão luminosamente expôs em pratos limpos exegéticos), sobre esse dilúvio de palavras concatenadas com o id do mundo.